A tranquilidade da Vida Cristã.


 O ateu está no temporal. Perceba que nessa pequena frase encontra-se o problema do ateísmo. Negando Deus e, consequentemente, a Imortalidade da alma, o ateu inevitavelmente cai em desespero - por mais convencido que esteja de sua beatitude. De maneira muito latente esconde-se no fundo de seu oceano a consciência de que a vida passará; todo castelo que construiu e construirá é feito de areia; qualquer casa erigida cai com o sopro do vento; o tempo, eis o maior inimigo do gentio. Em algum momento olhará para o horizonte e o pensamento escondido como um verme subirá pelas paredes e lhe dirá: tudo se esvai e, afinal, o que sou? O que é esse momento, minha vida pregressa e futura? Não há nada tão angustiante quanto a consciência de que seu tesouro mais precioso lhe será furtado. Sim, o ímpio nem suspeita, ou talvez esconda muito bem essa suspeita: o oceano se esvazia. Sendo feliz ou infeliz, cairá perante esse pensamento, porque o desespero reside no temporal, e é nele que o ateu vive.

Ora, mas e o Cristão? Ainda que sofra, não será infeliz, saberá que sua vida é um presente Eterno, e por isso, a felicidade é. Nada passa e nada vem; não há duração e tampouco há espera, apenas continuidade infinita; tudo é feito novo, sem no entanto necessitar de novidade, porque o Eterno é sua morada, e nela nada se desgasta, apenas se renova; ele cria na repetição; não há tempo perdido porque ele jamais se esgota; não existe nostalgia porque não existe perda. Os amigos, sua esposa, em geral, os bens terrenos, estes podem cair por terra - e inevitavelmente irão, seja por infortúnio ou pelo curso natural da vida -, mas o Eterno está nele, e ele está no Eterno; as perdas terrenas o abalam; o tormento e a inquietude que lhe acometem são tempestades avassaladoras, e no entanto, nada disso lhe deixa no escuro, pois a estrela cintilante povoa seu céu e lhe dá direção; o infinito fez morada em seu coração; ele está plenamente de acordo com a essência do Espírito, que consiste em ser Eterno; voar incansavelmente. O Cristão tem sua felicidade na consciência de que sua esperança é infinita, e que, embora os espinhos sejam abundantes, o doce e infinito manancial está garantido. 

Sua vida é infinitamente esperançosa. Pois o pior não é sofrer, e sim, ser desesperado. 

Eis a tranquilidade da vida Cristã.

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